quinta-feira, fevereiro 24

O portão





Deixo-te ir com o coração partido
As mãos em um movimento de sobe e desce dos dedos
ficam a altura do rosto na lateral da porta,
Os olhos com a esperança de que mude de idéia
e retorne como um filme de trás para frente.

Mas você vai, sem olhar para trás.
Foi mais uma noite daquelas, de pura insônia.
Insônia inquietante, ardente, ofegante, prazerosa.
Éramos apenas nós dois, uma cama, um espelho, uma luz (a meia luz).
Aquele era o meu momento, você era meu,
somente meu e estava presente de corpo e mente.

Cumplicidade adúltera, amor racionalmente astucioso,
esta é a nossa relação.
O portão é o nosso limite,
quando você passa por ele, tudo acaba,
e então espero o dia seguinte.
Não almejo a exclusividade,
quero ser a fuga do dia,
o descanso da alma.

terça-feira, fevereiro 22

Apenas sinta

Foto: Rafael Lopes



Pra que falar se o silêncio diz tudo?
Tudo que a boca não tem coragem
E os olhos adestrados transpõem
E que no fundo não passam de temores?

Não precisa dizer nada
Tente apenas sentir,
Use os sentidos
Pare, ouça e sinta com a ponta dos dedos

Não precisa ter pressa
Sinta o cheiro e feche os olhos
Você consegue chegar ao ápice da sensação
Olhe nos olhos, sem medo de olhar

E no final saberá
O muito que procura
Está no pouco que se apresenta.