quinta-feira, março 31

Retalho de amores





Hei, você que acha fácil se entregar aos amores!
E onde ficam meus temores,
Das noites repetidas
Dos beijos de um só sabor?

Sou homem de milhares
De pernas, seios, cabelos
De nomes esquecidos no fundo da gaveta

No meu peito bate um coração
Liberto de amarras, de ouros e véus
Sou de todas e todas são minhas

Eu hei de sempre viver assim
Enrabichado numa saia diferente
De retalho de cada cor
Com perfume de cada essência



sexta-feira, março 25

O primeiro passo foi meu




Convidei-lhe pra dançar

Mas você não soube bailar
A música dos meus desejos mais contidos
E no primeiro passo desistiu

Então sentei
Esperei pelo seu momento
Aquele foi só o meu primeiro convite
E talvez você ainda aprenda a me conduzir
E mais uma vez lhe convidarei

Mas a poltrona era confortável
E era melhor que assim fosse
Porque a espera foi longa

Vi você se arriscar em outras silhuetas
Mas alguma certeza me dizia
Que a dança final seria minha

E alguns rodopios desajeitados surgiram
Numa silhueta nem tão formosa
E você virou sorrindo
E o momento chegou para mim

Aproximou-se sorridente em sua valentia
Com a mão direita pediu-me uma dança
E conduziu-me com os olhos negros
A confundir-me com os meus

domingo, março 20

Um apelo


Que Deus me acompanhe
Nos passos tropeços que dou
E no caminho escuro se ascenda
Uma luz azul cintilante

Que os anjos me acalentem
No meu choro demorado
Vivendo as perdas dolorosas
Dos últimos dias noturnos

Que as santas me cubram
Com os seus mantos alvos
De bênçãos e sorte
Dos heróis e dos sábios



quinta-feira, março 10

Vá!








Arrume as malas
Não se esqueça dos cabides
Leve também o porta-retrato
E lembre-se de rasgar aquela foto

Coloque nossas lembranças
Na mala azul
E o presente do natal passado
Que nem usei

Leve contigo toda poesia
A música que compôs
No violão de corda quebrada
E eu hei de esquecer
O dia que a cantou

Quando sair, trocarei a cama
Mudarei a chave
Darei-te um adeus pela janela
E sozinha assistirei aquele filme

E outro em teu lugar colocarei
Mais quente, mais vivo
E nele acharei o que em ti não vi
A melodia nos olhos

quinta-feira, março 3

Uma dose de valentia



A coragem da embriaguez
É esse o gole que eu quero tomar
A valentia do fazer e do dizer
Tudo que falta na minha vida sóbria

As palavras saem fáceis
Entre risos e pensamentos travessos
Os movimentos sem reflexo se cruzam
O etílico penetra no sangue aguado

O sol atravessa o copo de vidro
A memória doída falha
O gosto na boca de palavras ditas
As danças malditas no centro da sala